CONFISSÃO Quando passo ao de leve pela minha vida tudo ganha sentido. Mal paro, tropeço. Não posso parar. Bom é este fim de tarde doce e azul sem fundo que resplandece no ar. Tudo se torna suave e sei que sou parte inteira deste universo que, a esta hora, se mostra assim. Queres saber onde estou? Estou no lugar onde qualquer pessoa que foi amada se encontra. No mexer, no sussurrar, na entrega, no incansável prazer, na alma a dois. (Pedro Paixão)
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Rodrigo Leão | As Ilhas dos Açores
É com o som de piano que A Montanha Mágica se começa a desenhar perante os nossos ouvidos. Esse primeiro tema do novo álbum de Rodrigo Leão estabelece de imediato o tom para a viagem que se segue: melodias que parecem fazer-se do mesmo tecido dos sonhos e das memórias, rendilhados de cordas capazes de transportar quem os ouve para outro lugar. E assim se faz a magia da música de Rodrigo Leão, ela própria um outro lugar que oferece refúgio e conforto.
Neste álbum, produzido uma vez mais por Pedro Oliveira e Tiago Lopes, Rodrigo foi explorando as emoções associadas a todas as memórias que o próprio invocou pegando em instrumentos que há muito se encontravam fora da sua esfera de executante, como os já referidos baixos ou guitarras, ou até a bateria, que tocou para daí retirar loops que sustentassem algumas das peças d'A Montanha Mágica. Além de Rodrigo recorrer a outros instrumentos, gesto aliás seguido por Viviena Tupikova ou Celina da Piedade, que alargam a paleta tímbrica com o recurso a instrumentos como o metalofone ou o sintetizador, há ainda que apontar os contributos de convidados como Pedro Wallenstein (contrabaixo), João Eleutério (guitarras), Miguel Nogueira (músico do Quinteto Tati que aqui toca guitarra), Rui Vinagre (em guitarra portuguesa) ou Tó Trips (o guitarrista dos Dead Combo).
O australiano Scott Matthew surge em A Montanha Mágica num gesto já anteriormente ensaiado por Rodrigo Leão, que gosta de seguir as paixões que o tomam de assalto quando certos discos lhe vêm parar às mãos. O cantor gravou em Berlim e é dele a letra profunda de «Terrible Dawn». Já o brasileiro Thiago Petit canta palavras de Ana Carolina em «O Fio da Vida»: «já madruguei nos teus braços», confessa a revelação da canção brasileira sobre um arranjo de beleza delicada que, à semelhança de outros momentos do álbum, nos transporta para outro lugar. Miguel Filipe, que também assina as ilustrações da capa, fecha depois a viagem com o retrato cinemático d'«O Hibernauta», espécie de fado transfigurado, com contributo eléctrico de Tó Trips, que volta a colocar a acção no domínio dos sonhos.
A edição deste trabalho inclui ainda um DVD gravado ao vivo em Março de 2011 no Casino Estoril, integrado na sua última edição.
http://youtu.be/6fZXXJMofm8
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