terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

EM REDE

Virou moda debater-se redes sociais nas próprias redes virtuais com os seus calcanhares de Aquiles, de jornalistas, de políticos, de artistas e de gente comum… como eu (?).

Dizer bem desta teia é que parece não ser muito in. Já não vende, já não cativa, já não aproxima. Nada como uma apurada polémica quando já ninguém acredita em finais felizes, quanto mais em princípios! Adiante…

Há muito que fui desafiada para escrever sobre estas relações, e ralações, virtuais por onde deixo que os meus dedos, as minhas emoções e o meu tempo se movimentem há quase uma década. (Numa página não me vai ser fácil, nem sequer resumir!)

O que por aqui me mantém não é a máquina, são as pessoas e o que têm para me ensinar, ou melhor aquilo que me permito aprender com elas tentando não desperdiçar a minha inteligência ou a minha ética, por estes caminhos cada vez mais navegados.

Vou experimentar ser coerente (sem o ser) e materializar de forma pouco concreta e muito sucinta sobre o que nos faz ir e vir, e vir e ir.

É uma janela aberta à informação e comunicação. Aqui não há discussão possível. O que cada um faz daquilo que recebe da “virtualidade” é que pode trazer gigantes benefícios ou todos os seus avessos, se mal usados. (O que fazemos da “realidade” será muito diferente? Cá fico com as minhas preciosas dúvidas.) Mas as redes sociais vão em vantagem na velocidade com que as coisas acontecem. Ama-se à pressa. Apedreja-se devagar. E confunde-se intimidade com à vontade.

Por vezes, encontramos as redes sociais aparente e secretamente fechadas na caixa de Pandora. Os seus malefícios envolvem-se com laços. O papel de embrulho está à vista nas passerelles dos egos e dos "alteres". E nesta feira vendem-se vaidades a custo zero pelo que há sempre quem as compre! É a inveja disfarçada de incómodo. Todos querem ser especiais. E quando há quem tenha valor e seja valorizado, é a guerra aberta ao ouro do outro eu. Todos querem estar no teu lugar, ler o que tu lês, sorrir como sorris, ouvir o que tu ouves, escrever o que tu escreves, sentir o que tu sentes simplesmente pelo que és. Enquanto se observa, pensam e moldam-se, porque o que causa intrinsecamente desconforto é haver quem seja o que se tornou, pela incapacidade de conquistar o prazer do que gostaria ser.

Podemos usar a net para proveitos profissionais, ou mesmo para fins pessoais. A nós, que lhe temos acesso, foi-nos dada a liberdade de usufruto quando queremos, com quem queremos, da forma como queremos e até onde queremos. Cada um per si e que se cuide! Esqueçam o "todos por um” ou o “um por todos" (talvez se abram excepções no Farmville do Facebook, onde se oferecem de mão beijada pregos, tijolos e tábuas para a tua quinta, ou sexta, mansão). Eu cá ando precavida porque sei que o big brother, anda à espreita… malandro!

Foge-se bem à solidão e nunca se está dolorosamente só. Há sempre quem nos vigie, nos ame e nos castigue.

Nas redes sociais já encontrei amigos com quem julgava nunca mais me vir a cruzar. Já fiz novos. Já me desfiz de velhos. Já perdi uns. Já dei lugar a outros. Já me apaixonei. Já me feri. Já me ri até me engasgar. Já chorei depois de me desligar. Já partilhei. Já recebi. Já interagi com gente nova e gente muito madura, gente podre, gente rica e gente séria. Já dividi, subtrai e multipliquei-me em amizades com muito, pouco ou nenhum valor. Já dei as boas-vindas com um sorriso e as despedidas em pranto. Já me entreguei mais na escrita interactiva do que numa mesa redonda de gente bonita. Já me escondi e observei. Já me esqueci e revelei-me. Em situações limite, já me vali do deus do Control+Alt+Delete.



Já tudo. Já muito. Já pouco. Já nada.


Susana Venenno

21.03.2010

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