segunda-feira, 15 de novembro de 2010

LÍRICA

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Quem pode ser no mundo tão quieto,

Ou quem terá tão livre o pensamento,

Quem tão experimentado e tão discreto,

Tão fora, enfim, de humano entendimento

Que, ou com público efeito, ou com secreto,

Lhe não revolva e espante o sentimento,

Deixando-lhe o juízo quase incerto,

Ver e notar do mundo o desconcerto?





Quem há que veja aquele que vivia,

de latrocínios, mortes e adultérios,

Que aos juízos das gentes merecia

Perpétua pena, imensos vitupérios,

Se a Fortuna em contrário o leva e guia,

Mostrando, enfim, que tudo são mistérios,

Em alteza de estados triunfante,

Que, por livre que seja, não se espante?





LUÍS DE CAMÕES, Lírica





http://geografarte.blogspot.com/2008_12_01_archive.html

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